quarta-feira, 6 de julho de 2011

ANÁLISE CRÍTICA/REFLEXIVA SOBRE LETRAMENTO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP
DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA


ROSANE MARLENE WEBER
SOELI BATISTA DA SILVA






ANÁLISE CRÍTICA/REFLEXIVA SOBRE LETRAMENTO


Prof. Drª: Leandra Ines Seganfredo Santos





SINOP-MT
2011/1
INTRODUÇÃO


O presente trabalho foi realizado com base nos resultados de uma entrevista feita pelos acadêmicos do 5º semestre de Pedagogia, com intuito de verificar os níveis de letramento das pessoas entrevistadas. Ao todo foram entrevistadas 29 pessoas entre 6 a 66 anos. Para a autora Magda Soares letramento é o resultado da ação de ler e escrever, ou ainda o estado ou condição que as pessoas adquirem através da escrita, e a alfabetização segundo a autora, é a ação de ler e escrever, e está dentro do letramento (SOARES, 2000). O fascículo do Pró-letramento (2007, p. 11) traz o seguinte conceito:

Letramento é pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, bem como o resultado da ação de usar essas habilidades em práticas sociais, é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um individuo como conseqüência de ter-se apropriado da língua escrita e de ter-se inserido num mundo organizado diferentemente: a cultura escrita como são muito variados os usos sociais da escrita e as competências a eles associadas ( ler um bilhete simples a escrever um romance).


A entrevista se divide em quatro blocos de questões como: atividades que costuma fazer, materiais que possui em casa, atividades no computador e freqüência com que realiza algumas atividades. Em cada bloco possuem várias perguntas as quais eram apenas respondidas com sim ou não, marcando com X quando positiva, exceto o último bloco, em que existia a possibilidade de marcar a freqüência em que realiza algumas atividades, de 0 quando nunca realizou tal atividade, 1 para raramente, 2 às vezes e 3 para freqüentemente.
Os resultados alcançados com a entrevista mostram quais as práticas e eventos de letramento mais realizados pelos entrevistados, e as menos realizadas, com uma breve análise e reflexão sobre cada uma dessas questões.





1- ATIVIDADES QUE COSTUMAM FAZER

Das 29 pessoas entrevistadas acerca das 22 questões referentes ao primeiro bloco, 22 responderam que comparam preços antes de comprar entre eles 6 pessoas na faixa etária de 6 à 10 anos, outras 5 entre 11 à 20, 05 entre 30 à 40 anos, 3 entre 50 à 60, e 2 com 66 anos. Através deste número compreendemos que as questões econômicas são uma preocupação e o cuidado que nos dias atuais as crianças têm aprendido, inclusive são também responsáveis por ajudar a administrar as economias da família. Os jovens começam a ter essa postura em sua maioria quando entram no mercado de trabalho, e com isso passam a valorizar o salário recebido após longos dias de trabalho suado. Dos adultos já eram mais esperados esses resultados, por serem quem administra as questões do lar, e muitas vezes também ensinam seus filhos a importância desse gesto. As pessoas mais jovens ou as crianças já aprendem cedo a pesquisar preços, pois é a melhor forma de economizar e fazer com que o dinheiro renda mais.
Esta é uma forma simples de prática de letramento a qual pode ser trabalhada na escola por meio da interdisciplinaridade e os gêneros textuais. Para Soares [...] “numa dimensão social é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e de escrita, em um contexto especifico, e como essas habilidades se relacionam com as necessidades, valores e práticas sociais” (2003, p.31e 39).
As questões relativas às atividades menos realizadas tiveram apenas dois entrevistados que afirmaram reclamar por escrito sobre os produtos e serviços adquiridos, um com 12 anos e outro com 36 anos, o que causaram bastante estranheza pela diferença de idade, mas entendemos que a criança com 12 anos respondeu baseada no exemplo dos pais, pois talvez não tenha tanto conhecimento dos direitos do consumidor como uma pessoa com 36 anos, que possa ter vivido a experiência de ter adquirido um produto com defeito, ou procurou informar-se a respeito do procedimento que deve-se realizar para fazer uma reclamação por escrito.
Na questão sobre atividade de escrever diário, também somente 2 pessoas responderam, e por coincidência ambas com 9 anos de idade. Esse resultado nos leva a refletir que não é uma prática muito realizada nos dias atuais entre os adultos, pois existe a possibilidade de não ser uma prática de letramento com muita importância para essa faixa etária. O mercado de trabalho exige muito das pessoas em nossos dias, e mais a competitividade para permanecer nele, assim as pessoas tem pouco tempo para tal atividade. As crianças têm mais fantasias e perspectivas sobre o mundo, também muita imaginação para escrever, e é um ótimo exercício para leitura e escrita, o qual poderia ser mais incentivado nas instituições educacionais, pois a criança aprende a refletir sobre tudo aquilo que vive no seu dia a dia.


1.2 MATERIAIS AQUE POSSUI EM CASA

Das questões levantadas sobre materiais que possuem em casa, houve um empate de números de pessoas que responderam dos 29 entrevistados 25 disse que possuem Bíblias e livros religiosos em casa o mesmo número de pessoas em relação a cartilhas ou livros escolares. Na questão levantada sobre folhinha ou calendário, apenas um entrevistado com 9 anos, respondeu que não possuía o material em casa. Contudo 10 dos 29 entrevistados responderam que possuem livros técnicos ou especializados, desses 10, 3 na faixa etária de 6 a 10 anos, 4 de 11 a 20, 1 de 21 a 30, e 2 de 31 a 40 anos.
Compreendemos que apesar de tudo de ruim que vem acontecendo em nossa sociedade, as pessoas procuram através da religião ou igreja estar mais perto de Deus, e isso acontece a milhares de anos, com o passar dos tempos este apego com Deus só se fortalece. Entendemos que a Bíblia é uma fonte em que as pessoas procuram conhecimento por meio da leitura e compreensão da mesma de acordo com Cagliari a leitura é: (1993, p. 112) “[…] um fenômeno social, um bem cultural, um fenômeno dinâmico que evolui com o passar do tempo.” Analisamos que apesar de nossas crianças e adultos não terem uma educação de qualidade, a maioria dos entrevistados disseram possuir cartilhas e livros escolares em casa, isto significa que apesar de tudo as pessoas ainda têm o interesse em aprender, e o nível de letramentos dessas pessoas são maiores.
Na questão levantada a respeito dos calendários foi quase que unânime somente uma pessoa disse não ter em casa, talvez pelo fato da família usar o calendário do computador ou celular, que normalmente estes aparelhos têm. Já a questão dos livros técnicos ou especializados, somente 10 pessoas afirmaram ter em casa, contudo surpreendeu-nos o fato de que quase todas as faixas etárias disseram possuir estes livros em casa. O resultado desta questão nos mostra o quanto as pessoas procuram estar em busca constante de aprendizado.


1.3 ATIVIDADES NO COMPUTADOR


Sobre as atividades no computador dos 29 entrevistados, 18 responderam que jogam ou fazem desenho, 9 tem entre 6 à 10 anos, 4 de 11 à 20, 2 de 30 à 40, 2 de 41 á 50 e uma de 66 anos. E a atividade a respeito de criar páginas e fazer programas no computador, apenas duas pessoas das entrevistadas responderam, 1 na faixa etária de 11 a 20, 1 entre 31 a 40.
Com a criação das tecnologias digitais como o computador, a sociedade sofreu grandes transformações, e sua ação no meio da sociedade vem aumento de forma muito rápida. Hoje o computador é usado como instrumento de trabalho, aprendizagem, diversão mostrando e auxiliando as pessoas em tarefas do cotidiano, diversão, entretenimento e ainda um jeito novo de ver o mundo e construir conhecimento. Apesar de o computador ser uma ferramenta quase imprescindível no mundo de hoje, muitas pessoas, em sua maioria com pouca instrução educacional, vê essa tecnologia com barreiras e medos para enfrentar.
E sobre as atividades que os entrevistados mais fazem no computador, podemos perceber que é uma das formas de letramento que tem aumentado bastante em meio a sociedade. Nesta atividade destacamos que das 29 pessoas entrevistadas 18 responderam que desenham no computador, isso nos mostra que não é somente as pessoas mais jovens que sabem utilizar esta ferramenta, pois um dos entrevistados está na fixa etária de 60 a 70 anos e mais jovem entre 06 a 10 anos. Essas são atividades relativamente fáceis de serem trabalhadas no computador, em que até crianças ainda não alfabetizadas, mas com um nível de letramento conseguem realizar sem grandes problemas, pois observam com atenção quando os adultos ensinam, ou mesmo apenas quando fazem uso da tecnologia.
Já na outra atividade que diz respeito à criação de páginas ou fazer programas no computador somente duas pessoas responderam afirmativamente a questão, 1 na faixa etária de 11 a 20 anos e outra entre 31 a 40 anos. Como podemos perceber há uma diferença muito grande de uma questão para outra quando se trata fazer algo que exija um pouco mais de atenção e habilidades, poucas pessoas têm esta facilidade para criar um blog ou um site, por exemplo, em que se faz necessário mais conhecimento.


1.4 FREQUÊNCIA COM QUE REALIZA ALGUMAS ATIVIDADES


Nesta quarta e última etapa as pessoas responderam as questões da entrevista indicando a freqüência de 0 a 3 (0 nunca, 1 raramente, 2 as vezes e 3 freqüentemente) com que realizam algumas atividades. Assistir filme na TV, foi a atividade realizada com mais freqüência, 15 pessoas responderam com freqüência 3, 6 responderam com freqüência 2, e 5 responderam com freqüência 1. Este número nos remete a pensar que dos meios de comunicação a TV é uma das formas de letramento e acesso a cultura, mais utilizadas pelas pessoas em geral, tendo em vista a facilidade para comprar um aparelho e por ser gratuita. De acordo com Rojo (2009, 52) “No acesso a cultura e à informação, predominam os meios de massa (rádio, TV aberta), atualmente no Brasil bastante penetrados pelos discursos religiosos.”
A TV aberta dá as pessoas livre acesso a vários canais e os mais variados programas de todos os gêneros, entre eles os filmes são os mais assistidos de acordo com a pesquisa, pois os horários em que costumam ser exibidos são variados, mas com maior freqüência à noite quando boa parte da população está em casa. Para os adultos os filmes também são considerados uma forma de relaxar e descansar em frente ao televisor, pois exigem pouco do telespectador, para as crianças uma ótima diversão e ocupação de tempo.
A atividade referente a visitas em museus e exposições de arte, apenas um dos entrevistados com 9 anos de idade respondeu, e com freqüência 1. O fato de somente uma pessoa das vinte nove entrevistadas, responder a esta questão com uma freqüência 1 raramente, mostra que essa criança fez a visita a um museu de outra cidade, ou estado já que em nosso município não temos o privilégio de termos um museu, e raramente há exposição de obras de arte, apesar de termos excelentes artistas e artesões. A partir da resposta dos entrevistados notamos o pouco acesso das pessoas em eventos de letramento deste nível, no qual construímos cultura e conhecimento.








CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio dos resultados desta pesquisa, constatamos quais os eventos e práticas de letramento as quais as pessoas entrevistadas mais praticam em seu cotidiano. Magda Soares em sua obra fala sobre concepção de alfabetização e letramento:


Torna-se necessário, aqui, um esclarecimento conceitual: estou entendendo por alfabetização, nesta exposição, a aquisição básica de leitura e de escrita e dos usos fundamentais da língua escrita na sociedade em que o individuo vive; uso o termo alfabetismo (outros preferem “letramento”) para designar o estado ou condição de domínio e uso pleno da escrita, numa sociedade letrada. (2000, p.54).


Então podemos considerar que pessoas já alfabetizadas ou aquelas que ainda não são, possuem letramentos, cada uma com nível diferente, ,pois, de acordo com Soares (2000, p, 47), “O letramento pode ter seu início antes mesmo da alfabetização”. Contudo observamos que os múltiplos letramentos se fazem presentes na maioria das atividades realizadas pelos entrevistados, das mais simples realizadas por um número maior, e as atividades que exigem mais letramento, ou seja, mais compreensão, habilidades e conhecimento por um número bem menor de entrevistados. Entendemos, assim, que a escola e as instituições educacionais têm um papel fundamental no que diz respeito aos letramentos, dando aos alunos oportunidades de desenvolvimento de todas as habilidades envolvidas na leitura e escrita. Nas palavras de Soares: “Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser” (2000, p, 41).
Por meio de uma educação de qualidade as pessoas podem adquirir nos letramentos criticidade e reflexão para o bom exercício da cidadania, pois, o conhecimento é um instrumento muito eficaz na transformação de uma sociedade.






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguisticas. São Paulo: Scipione, 1993.

ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

SOARES, M. B. Letramento: um tema em três gêneros. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

______.Alfabetização e Letramento. São Paulo: Editora Contexto, 2004.

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